O consagrado é alguém chamado por vocação, para viver de forma autêntica o seguimento a Jesus Cristo. Esse seguimento se dá a partir de um coração indiviso e acolhedor, capaz de amar a todos sem pretensão. Nessa perspectiva da vivência da vocação, emergem diversas dificuldades que abrangem desde a pessoa vocacionada até os aspectos institucional e sócio cultural.
A sociedade está vivendo uma mudança tão intensa, que já não podemos apenas falar em “época de mudanças”, mas em “mudança de época”. As transformações culturais, as inovações científicas e comunicacionais são, ao mesmo tempo, consequências e expressões, que indicam que os paradigmas da modernidade já não são suficientes para compreender os tempos em que vivemos.
Mediante esse contexto, a Vida Religiosa Consagrada, como toda e qualquer instituição, vem enfrentando profundas mudanças em relação à vida comunitária, diminuição dos membros, o enfraquecimento e o cansaço dos (as) consagrados (as), a cultura do provisório, onde o “viver para sempre a consagração” já não faz tanto sentido na sociedade atual…
A cultural parece impactar na mudança de concepção entre a essência da diferenciação do homem e da mulher. Pois crescemos em uma sociedade patriarcal em que as mulheres são educadas para serem mães, donas de casa. Enquanto o homem tem funções distintas, assim como a autonomia e a independência.
A influência do desejo dos pais sobre os filhos tem ganhado proporções significativas. A família, com o número de filhos reduzido, tende a projetar nas futuras gerações as profissões não conquistadas, uma espécie de suprir as próprias frustrações. Desse modo, os homens e, principalmente as mulheres, sofrem as consequências das decisões dos pais pesar sobre si no momento da escolha vocacional. Na oposição, encontra-se uma carreira promissora.
Na perspectiva da relação de gênero, outro estereótipo, imposto pela sociedade, é que para ser freira a mulher deve ser dócil, incapaz de expressar sua opinião. Contrapondo com as características do homem, que deve ser estudioso, inteligente, capaz de administrar as obras Paroquiais. Enquanto que a mulher na Igreja ainda é vista na retaguarda, inclinada à oração, sendo estigmatizada quando possui uma personalidade capaz de expressar sua opinião própria.
No turbilhão destes novos tempos tão contraditórios, a Vida Religiosa Consagrada sente que, a cada dia, é chamada a ser “sinal do Reino futuro” (LG 44). Para que esse sonho se torne realidade, cabe-nos, ao mesmo tempo, não perder o horizonte que se alarga a nossa frente e ter os pés bem no chão, para que nossos pequenos passos do dia sejam seguros e condizentes com o caminho que desejamos trilhar. “Verdadeiramente, a vida consagrada constitui memória viva da forma de existir e atuar de Jesus” (São João Paulo II).
Irmã Jaqueline Ferreira da Silva, fsp